
Folia de Reis No Rio de Janeiro
Penitentes de Santa Marta - Lado A
Estrela Jacó Anunciada por Balaão - Lado B
Gravação de som realizada nos dias 20 e 21 de novembro de 1981 na Escola de Artes Visuais do INEARTE (SEEC-RJ), no Parque Lage (2 microfones AKG D 1200, 2 microfones AKG D 90 C, mixer Akai MM 62, gravador Revox A77, fita Maxell UD-XL). Montagem de fita no Estúdio Tacape-RJ. Matrizado e prensado na Topecar. Capa e encarte impressos na Gráfica Myara. Gravação, montagem e supervisão de edição Conrado Silva. Layout e Arte-final: Leon Algamis / Roselie de Faria Lemos. Composição gráfica: Sergio Salvador. Produção: José Maria Neves. Edições Tacape, Brasil, 1981.
Capa e Encarte
Textos do Encarte
FOLIA DE REIS NO RIO DE JANEIRO
FUNDAÇÃO RIO - PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Secretaria Municipal de Educação e Cultura
FACE A
Penitentes de Santa Marta
1. Marcha
2. Chegada/Profecia : Anunciação
3. Brincadeira do Palhaço
4. Despedida
João Lopes Israel (Mestre)
Jose Diniz (Presidente)
Ronaldo Silva (Palhaço)
FACE B
Estrela de Jacó Anunciada por Balaão
1. Chegada
2. Profecia : Anunciação
3. Brincadeira dos Palhaços
4. Despedida
Jose Moreira (Mestre)
Sandoval F. da Silva (Presidente)
Antônio S. de Oliveira (Palhaço)
João Vital da Silva (Palhaço)
Este disco é resultado de um trabalho cultural de fôlego, realizado pelo projeto Centro de Documentação e Pesquisa de Arte Popular. Com ele a FUNDAÇÃO RIO deseja divulgar pesquisas realizadas em duas comunidades na Cidade do Rio de Janeiro e espera que o disco agora apresentado seja inicio de uma serie de documentos músicas abrangendo a produção de diversas e ainda desconhecidas pessoas que fazem a verdadeira cultura popular.
CARLOS ALBERTO DIREITO - Presidente da Fundação Rio
Durante o ano de trabalho desenvolvido pelos pesquisadores do Centro de Documentação e Cultura Popular da Fundação Rio em Botafogo e Padre Miguel, ficou manifesto o interesse, por parte das Folias de Reis aqui focalizadas, em ver registradas em disco a sua existência e a sua forma de atuação. Como todo grupo que detém, transforma e transmite um saber específico, as Folias receberão ainda parte da edição relativos a esta gravação.
Longe de constituir sinal de conclusão ou resultado final de trabalho, este disco é considerado tanto pelos pesquisadores José Maria Neves, Cecília Conde, Lauro Cavalcanti e Dinah Guimaraens, como pelos integrantes das Folias Penitentes do Santa Marta e Estrela de Jacó Anunciada por Balaão, como mais um momento de um processo de reconhecimento recíproco que continuará a desdobrar-se e a refletir-se em novas ações conjuntas ou isoladas.
As próprias noites da sua gravação no Parque Laje constituíram exemplo bem vivo do espírito do nosso modo de pesquisar.
Procuramos receber os foliões da mesma maneira acolhedora e fraterna com que eles nos tem aceito no Morro de Santa Marta e em Vila Vintém, quando buscamos acompanhar e compreender ali os rituais das suas Folias de Reis. O que vale dizer que tudo se passou com muito respeito, e que também não se excluíram absolutamente destas noites a confraternização final em torno de uma mesa de comida com os acompanhamentos de direito, assim como a alegria e o aquecimento indispensáveis à realização do registro que nos propusemos fazer, indissociável da reunião entre pessoas que, gostando das mesmas coisas, gostam também de se encontrar.
LELIA COELHO FROTA
FOLIA DE REIS NO RIO DE JANEIRO
PORQUÊS
Desejou-se, gravando este disco, transmitir, ainda que de modo incompleto e fragmentado, uma vivência musical popular, uma manifestação de religiosidade que veio de seu local de origem, o meio rural e a pequena cidade, e, por notável fenômeno de adaptação, mantém-se viva na cidade grande. Foliões de diversos pontos do Estado do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, de Minas Gerais e do norte de São Paulo, vivendo as necessidades da metrópole, encontraram meio de transplantar para a cidade do Rio de Janeiro e manter viva uma tradição aprendida e vivenciada em seus locais de origem, transformando-a. E, a cada ano, no período natalino, retornam o ritual de saídas que praticavam nas pequenas cidades e nas comunidades rurais, aglutinando-se em torno desta manifestação, levando-a a outras pessoas que tiveram a mesma vivência, contribuindo para a preservação de uma antiga tradição. Este disco, reunindo duas das diversas Folias de Reis vivas na cidade do Rio de Janeiro, é testemunho desta realidade e de suas diferentes fases, uma vez que revela a maneira especial de existência desta forma de canto-reza-teatro-brinquedo em comunidades tão distintas como a do subúrbio de Padre Miguel e do Morro de Santa Marta, no bairro de Botafogo.
Este disco reafirma, também, a convicção da necessidade do registro fonográfico (na falta do cinematográfico-sonoro) deste tipo de manifestação tradicional. Os antigos meios de registro musicológico, essencialmente gráficos, são apenas aproximativos, deixando incertos e até indeterminados elementos característicos da ação musical, tais como o timbre vocal e instrumental, os agrupamentos instrumentais, e mesmo os detalhes de afinação e altura dos sons e de estruturação rítmica. Na verdade, há muitíssimas coisas impossíveis de serem grafadas na notação musical tradicional. O registro fonográfico é documento mais vivo e verdadeiro, espelhando um determinado momento da existência destas manifestações populares.
Centro de Documentação e Pesquisa de Arte Popular - CEDOC
FUNDAÇÃO RIO
A GRAVAÇÃO
Evidentemente, a melhor maneira de documentar fonograficamente um evento como a Folia de Reis é gravar o que acontece no momento mesmo em que acontece, durante seu ciclo natural. Enquanto os dois grupos aqui mostrados foram observados e estudados, nos ensaios preparatórios, nas festas de Natal de Reis e de São Sebastião ou nos "Arremates", foram feitas muitas horas de gravação. Mas a situação de pesquisa nem sempre produz resultados ideais para transcrição em disco. As cerimônias são movimentadas e realizam-se, muitas vezes, em locais que praticamente impossibilitam apuro na qualidade da gravação. Somente por esta razão, optou-se por solicitar dos grupos uma saída especial, antecipando o ciclo habitual, e em local que permitisse a captação de detalhes que passariam desapercebidos em outras circunstâncias. Evitou-se, entretanto, o estúdio de gravação, que, certamente, provocaria postura artificial dos membros dos grupos. Esta saída excepcional obedeceu, entretanto, à mesma forma de organização das saídas normais. Os "Mestres" dirigiram em total liberdade. Não houve acréscimos ou transformações que pudessem comprometer a verdade das manifestações tradicionais. A única modificação existente refere-se ao equilíbrio sonoro. De fato, quando uma Folia de Reis toca em uma praça ou na porta de uma casa, o som dos instrumentos tende a agrupar-se de modo pouco equilibrado, havendo predomínio dos instrumentos de percussão, tornando-se as vozes da cantoria menos presentes e, muitas vezes, desaparecendo por completo a viola e a sanfona, em virtude da pequena intensidade do som destes instrumentos Quando no interior das casas, ainda que a percussão continue predominando, sente-se melhor a presença da viola e da sanfona. Nesta gravação, buscou-se equilíbrio sonoro que se aproximasse do som da Folia dentro de casa, com afastamento da percussão e valorização das vozes, da viola e da sanfona. Assim, ouve-se a Folia como se estivesse no meio dela.
Este respeito à verdade da manifestação tradicional levou a maior atenção a elementos fundamentais desta vivência musical: a hierarquia no grupo e o "tempo". Manifestações tradicionais do gênero da Folia de Reis transcorrem em tempo que se distingue em muito da noção de tempo na vivência culta ocidental. Não há pressa para começar; o "aquecimento", a entrada em "estado de fazer" e o próprio ato duram o que o grupo achar necessário (parece que o começo verdadeiro e o fim são momentos definidos por uma espécie de sentimento coletivo de realização, de satisfação). Por isto mesmo, a gravação deste disco se fez sem cronometragem, deixando acontecer.
Quando se combinou com os dois grupos a realização deste disco, foi comentado, ainda que superficialmente, o problema da duração de um disco e o que isto representa como limitação. A Folia do Morro de Santa Marta, a partir desta conversa, chegou para a gravação já com uma escolha prévia de "versos" de chegada, de Profecia e de despedida, com duração aproximada do que seria o necessário. Isto é reflexo da experiência que muitos dos participantes daquela Folia têm em áreas como o Bloco Carnavalesco Império de Botafogo e conjuntos musicais (o conjunto "Diamante Negro", do qual participam dois membros da Folia). A Folia de Padre Miguel não revelou preocupação com a duração. Em vez de cantar por tempo aproximado do que seria necessário, a participação desta Folia estendeu-se durante quarenta minutos, sem falar nas chulas de palhaços. Aliás, os palhaços das duas Folias, no entusiasmo, perderam noção do tempo, (dentro do conceito de tempo na cultura ocidental) tendo mesmo dificuldade para encerrar os improvisos. Ronaldo, do Morro de Santa Marta, brincou durante quarenta minutos (contrariando o caráter sintético da parte cantada), enquanto os dois palhaços de Padre Miguel precisaram de cerca de meia-hora para os improvisos.
A organização da apresentação de cada uma das Folias foi a seguinte:
Penitentes de Santa Marta (Botafogo)
1. Marcha (deslocamento e evoluções)
2. Chegada
3. Profecia: Anunciação
4. Brincadeira de Palhaço (62 "versos" dos quais foram selecionados 11)
5. Despedida
Estrela de Jacó Anunciada por Balão Vila Vintém (Padre Miguel)
1. Chegada (4 "versos", dos quais escolheu-se 1)
2. Profecia: Anunciação (14 "versos" dos quais foram selecionados 5)
3. Brincadeira do 19 Palhaço (19 "versos", dos quais foram selecionados 7)
4. Brincadeira do 29 Palhaço (18 "versos", dos quais foram selecionados 6)
5. Despedida (3 "versos" dos quais escolheu-se 1)
O palhaço do Morro de Santa Marta e o 2º Palhaço de Vila Vintém (Padre Miguel) falaram "versos" sobre o romance popular do "Pavão Misterioso". O de Santa Marta, além disto, incluiu em improviso uma série de versos sobre as cartas do baralho, que também é tema comum a improvisos de cantadores e repentistas populares.
Como o improviso do 2º palhaço de Padre Miguel explorou quase unicamente o romance do "Pavão Misterioso", foram aproveitados alguns momentos deste romance, deixando-se na gravação do Palhaço de Santa Marta apenas o enunciado deste romance popular e da exploração do simbolismo dos números das cartas do baralho.
Convém ainda chamar a atenção para a diferenciação entre os modos de cantar das duas Folias. Enquanto no grupo do Morro de Santa Marta cada "verso" é dito pelo Mestre e logo cantado por todos, na de Padre Miguel cada verso é entoado pelo "coro da frente" (Mestre e Contra-Mestre) e, após interlúdio, respondido pelo "coro de trás" (todos os foliões).
Com relação à média de idade dos participantes, pode-se dizer que o grupo de Padre Miguel é constituído sobretudo de "veteranos", enquanto no de Santa Marta são encontrados junto aos veteranos jovens e até crianças, particularmente na percussão. Isto explica a diferença do som dos dois grupos.
Esta seleção de momentos, se não mostra a totalidade do evento, revela detalhes de cor sonora e de interpretação, e, a mesmo tempo, permite visão panorâmica do que seja a Folia de Reis.
A FOLIA
A Folia de Reis é um dos tantos "brinquedos deambulatórios" (conforme definição de Mario de Andrade) existentes no Brasil desde os primeiros anos da colonização. O caráter processional da Folia de Reis e de muitos outros folguedos tradicionais brasileiros deriva, certamente, de velhas cerimônias pagãs cristianizadas, muito comuns na Idade Média, que tomaram caráter próprio ao se nacionalizarem. Já nas cartas dos primeiros missionários jesuítas aparecem referências a procissões nas quais havia "danças e invenções à maneira de Portugal" (carta de Nóbrega a Simão Lopes, em 1549). Muitos destes folguedos foram chamados de "reis" ou de "reisados". Em seu aspecto formal, alguns deles derivam de três elementos básicos: os cortejos coreográficos, os vilancicos religiosos e os brinquedos ibéricos relembrando as lutas dos cristãos contra os mouros. No que se refere à inspiração profunda, está frequentemente presente o pensamento elementar de morte e ressurreição.
Tal como se conhece, pelas vivências folclóricas brasileiras e ibéricas, a Folia de Reis se liga às duas primeiras raízes, incluindo elementos do cortejo e do vilancico religioso.
Os folguedos que Mario de Andrade classifica como Danças Dramáticas têm todos um traço comum na sua estrutura, algo de quase litúrgico, que, à semelhança da missa, prevê a presença de partes fixas e de partes variáveis. Na verdade, a própria parte fixa tem enorme elasticidade, constando, no geral, de cortejo processional e de representação narrativa, na praça, na igreja ou na casa, chamada "embaixada" no caso dos folguedos cenicamente mais elaborados ou "jornadas", nos demais casos. Chamar o desenvolvimento dramático de "jornada", no caso das Folias de Reis, pode, entretanto, gerar confusão, uma vez que as saídas dos grupos têm este nome e que o próprio ciclo da festa, o período natalino, é conhecido como "Jornada dos Reis". Por isto mesmo, convém mais fazer referência aos momentos das "Profecias", cantadas quando o cortejo pára.
Em seu estudo sobre o tema, Mario de Andrade aproxima a figura do "Mestre" da Folia à do "Histórico" dos oratórios antigos, aquele que relata os fatos. Mas o "Mestre" não é figura isolada, solitária e auto-suficiente, e sim o que orienta o canto coletivo, dá a toada e lembra o texto, repetidos dentro da forma responsorial aconselhada pelas constituições apostólicas como solução ótima para a participação de todos nos atos litúrgicos católicos.
Outra semelhança entre estes folguedos brasileiros e aqueles ibéricos que lhes deram origem é o peditório. Na tradição europeia, também se "tirava os reis"; lá também se cantava, conforme as dádivas, as cantigas de bendizer ou as cantigas de maldizer. Estas duas soluções finais ainda estão bem presentes no interior do Brasil, onde podem ser cantados, em casa que deixou portas fechadas para a Folia, versos como "Esta casa fede a breu, ah êh (Bis) / Dentro dela tem judeu ah êh (Bis)".
De modo geral, todos os personagens e todos os foliões são bons, honestos e virtuosos, sendo a ruindade toda colocada nos ombros de um único personagem (e não do folião que o representa, mais por obrigação que por gosto). A figura do mal pode ser ridicularizada, pode mesmo ser destruída (como o Judas da malhação do Sábado de Aleluia), mas poderá até tornar-se a figura mais popular do folguedo, a válvula de escape profana em ambiente carregado de religiosidade, a consciência crítica do grupo e da sociedade, como acontece precisamente com o Palhaço da Folia de Reis.
Habitualmente, no Estado do Rio de Janeiro, cada saída da Folia de Reis pode ser dividida em dois momentos: o cortejo, quando o grupo se desloca de um lugar para outro, em marcha silenciosa ou acompanhada de música (como no caso do grupo do Morro de Santa Marta), e, quando pára em alguma casa, o ritual propriamente dito, que consta do pedido de “abrição” de porta, saudação ao dono da casa, profecias (canto da viagem dos Três Reis Magos ou de passagens da vida de Cristo), brincadeira do palhaço (versos falados e dança), agradecimentos e despedida.
O ritual é longo, durando, quase sempre, entre uma e duas horas. O pedido de "abrição" de porta acontece quando a chegada do grupo não foi prevista ou pressentida e os moradores da casa dormem. Caso contrário, esta etapa pode resumir-se a um único "verso" (na verdade, uma estrofe de dois versos), passando logo à saudação aos donos da casa, quando o grupo entra. Neste momento, usa-se fazer também saudações aos santos que existam na casa, quadros ou imagens.
O canto das Profecias se faz habitualmente em "versos" longos, cantados pelo Mestre e Contra-Mestre e repetidos pela "cantoria". Em alguns grupos (como o do Morro de Santa Marta), os "versos" são ditos pelo Mestre, durante o interlúdio instrumental, e logo cantados por todos. A metrificação é mais ou menos rígida e há rima de dois em dois versos. Entretanto, são muitas as variantes da composição poética, podendo aparecer quadras de versos breves.
Até o dia de Reis, as Profecias versam sobre o tema do Natal: Anunciação, Nascimento, Visita dos Reis e Fuga para o Egito, só ocasionalmente sendo cantada Profecia sobre a vida adulta de Cristo (particularmente a Paixão). Após o dia de Reis, são feitos versos em homenagem ao Glorioso Mártir São Sebastião.
A Folia de Reis não costuma fazer peditório explícito como o dos repentistas nordestinos, mas é hábito fazer-se aos foliões oferecimento de comida e bebida e algum dinheiro "para a Bandeira". O dinheiro recolhido servirá sempre para cobrir os gastos com a Festa do Arremate, que encerra o ciclo com uma última cantoria na sede da Folia, após a qual o palhaço retira a máscara e a "farda", e com uma refeição oferecida aos foliões e seus convidados. O dinheiro recolhido pelo Palhaço, entretanto, não entra na caixa comum e pertence a ele.
O Palhaço é a inversão da ordem e a figura do mal, assustando as crianças e divertindo os adultos com suas tiradas irreverentes e cheias de humor. Pode haver mais de um palhaço na mesma Folia. O Palhaço não participa dos cantos das Profecias, não entra na casa neste momento (ou, quando quer entrar, pede que cubram os santos que existam na casa), não entra nunca na igreja (salvo se estiver sem máscara), anda sempre ao lado ou atrás da Bandeira, nunca na frente dela. Durante as Profecias, limitam-se a emitir sons agudos e estranhos, ao final de cada estrofe. O Palhaço se veste de roupas largas, coloridas e enfeitadas com fitas, dentes, espelhos e guizos e usa máscara feita de pele de animal (geralmente de cabrito). Seus gestos e sua dança seguem coreografia muito particular. Sua atuação começa, habitualmente, ao fim das Profecias. A partir daí, ele é o senhor da festa, alternando danças malabarísticas com acompanhamento instrumental e o recitativo de suas "chulas". Ele vai improvisando versos, com métrica e rima definidos, usando como temas alguns velhos romances tradicionais, histórias bíblicas e, sobretudo, assuntos do momento, fazendo verdadeira crítica de costumes.
O Palhaço recebe muitos nomes, no que se refere ao que representa: o "Pirsiguidô" enviado por Herodes para encontrar e matar Jesus, o próprio "Herodes", "Pantaleão, o Pirsiguidô", "Judas" o traidor, o "centurião que espetô a lança em Jesus", o "atentadô" de quem falam os Evangelhos relatando a vida adulta de Jesus, "Satanás", o "Demônio". Em algumas Folias do Rio de Janeiro, a figura do Palhaço é ligada a "Exú". Por toda esta carga de ruindade, o Palhaço tem que se cuidar, fechando o corpo em terreiro de macumba, rezando certas orações antes de vestir a "farda" e a máscara (na qual está o peso da função), usando cruz no pescoço, não se afastando da Bandeira para não ser possuído pelo demônio, limpando o corpo, na despedida final, pela força da Bandeira, que tudo purifica, quando o Palhaço deve "desfazê tudo que fez", não por gosto, mas por obrigação do ofício. Muito frequentemente, o Palhaço está preso por promessa de sair na Folia durante sete anos seguidos.
A mais importante figura da Folia de Reis é, evidentemente, o Mestre, que, além de ser o mais sábio em assuntos relacionados com o ritual (conhecimento dos cantos, das Profecias, dos toques, das regras e leis), para transmiti-los aos foliões, deve ser também o verdadeiro líder do grupo. O Mestre é "feito" depois de longo aprendizado com outro Mestre. Ele é auxiliado em suas funções por um Contra-Mestre, que com ele canta a entoação das Profecias e que o substitui em seus impedimentos. O instrumento-símbolo do Mestre é a Viola.
Segundo a tradição, as Folias de Reis eram compostas, antigamente, por apenas três foliões, que representavam os Três Reis do Oriente. Hoje, as Folias têm número muito variado de participantes. Mas os Mestres insistem que o correto é ter 12, 13, 15 ou 16 foliões, segundo o ponto de vista defendido por cada um deles. Doze, e só homens, quando ele pretende que os foliões representem os apóstolos; treze quando ele defende o simbolismo dos apóstolos, mas destaca a figura do "bandeirista" (carregador da Bandeira da Folia); mas há Folias que saem com os doze apóstolos e os três reis, ou com todos estes e mais o "bandeirista". Na verdade, raramente a Folia fica nestas quantidades. As mulheres não era aceitas, exceto como figurantes, como no caso da "noiva", que pode aparecer carregando a Bandeira, ou quando representam as "pastorinhas". Neste caso, elas fazem parte da "cantoria".
Em princípio, todos os foliões cantam e tocam algum instrumento, ainda que, em algumas Folias, haja certa especialização na "cantoria". Os instrumentos mais presentes são a viola (privativa do Mestre), a sanfona de oito baixos, o bumbo, o tarol, o triângulo, o ganzá, podendo aparecer ainda o surdo, o pandeiro, o violão (com cordas de aço) e o cavaquinho.
A Bandeira é o símbolo máximo da Folia e todos devem a ela o maior respeito. Com freqüência, os foliões, ao se referirem ao grupo, falam em "nossa Bandeira". Ela é sempre muito ornamentada com flores e fitas e leva no centro a figura dos Três Reis Magos. Quando a Folia sai também como Folia de São Sebastião, entre 6 a 20 de janeiro, é acrescentada na Bandeira a imagem deste santo.
Os uniformes das Folias são muito variados, dependendo do nível sócio-econômico do grupo. Todos usam calças da mesma côr, completando o traje com camisas algo enfeitadas (as vezes usam paletó) e boné ou chapéu ornado de flores e fitas ou, em alguns casos, bonés tipo marinheiro, decorados com espelhos, correntes e flores.
As saídas das Folias já foram assunto de muitos estudos. Segundo informes bem fundamentados, no passado elas saiam em uma única jornada, que durava sete dias, entre 1º e 6 de janeiro (como acontece ainda hoje em Mossâmedes, Goiás). Mas, mesmo nas zonas rurais, tornava-se difícil tirar tantos dias de folga no trabalho. Assim explicam alguns Mestres o alargamento do ciclo de Reis, passando as Folias a cantar apenas nos fins de semana e feriados. A primeira saída passou a ser à meia-noite do Natal, durando a jornada até 6 de janeiro. No Rio de Janeiro é habitual prolongar-se a jornada até 20 de janeiro, passando a Folia a cantar para São Sebastião, no qual têm muita fé. Dele disse um folião: "São Sebastião é o santo maior que temos. O santo maior mesmo é o Santo Reis, porque ele é que foi encontrar Jesus Cristo. São Sebastião é porque ele é padroeiro do Rio de Janeiro, é nosso defensor. É o único santo que quando a gente diz assim: ih! Está havendo uma epidemia de doença, todo mundo se apega com São Sebastião, que é quem livra a gente. É um santo tão poderoso que quando cismaram de acabar com o feriado do dia dele, quase que arrasou o Rio de Janeiro, com uma chuva medonha (janeiro de 1966). Chovia tanto que ninguém podia descer nem prá trabalhar. Foi uma tristeza. Num instantinho o Governo resolveu deixar o feriado."
Quando as Folias eram numerosas e circulavam pela zona rural, ou mesmo mais recentemente, quando havia mais de um grupo no mesmo local, podia acontecer delas se encontrarem durante a saída. O hábito era que se estabelecesse uma espécie de peleja cantada, destinada a mostrar qual delas sabia maior número de "versos" das Profecias. A vencedora ganhava todos os bens da outra: bandeira, uniformes, instrumentos. E havia sempre grandes brigas. Estas pelejas não mais acontecem como antigamente. Quando as Folias se encontram, fazem simples e belo ritual de saudação das Bandeiras e troca de gentilezas entre os participantes.
A FOLIA DE REIS VISTA PELO SEUS FOLIÕES
- A Folia de Reis "vem desde Adão..." (1)
- Pelos antigos já vinham cantando Reis. As Folias rezam que era antes de Cristo... (3)
- O Reis partiu do Velho Testamento... vai até o Novo Testamento. Os Três Reis não sabiam que eram reis não... tinham esperança que Jesus ia nascer... (1)
- Eles eram reis mesmo... eram estudiosos... estudavam astronomia... eram profetas. (2)
- Como Adão também era Profeta... Depois que Adão veio ao mundo, começaram a cantar Reis. (1)
- Quando os três Reis viram a estrela guia os três Reis estudavam astronomia, estudavam estrelas — então quando eles viram aquela estrela diferente das outras, e les conheceram logo... alguma coisa vai acontecer... e seguiram a estrela. (2)
- A viagem durava 12 anos, mas eles fizeram em 12 dias... era o poder divino.
- Levaram presentes, levaram mirra, incenso e ouro... lá era muito pequenininho, não dava para entrar os três de uma vez só, então entrou um de cada vez.
- São dois brancos e um preto... de países diferentes... o preto era o Baltazar, e tinha o Meltichol e o Gaspar.(1)
- Os três Reis que avisaram o Herodes sem querer. "Vocês viram o letreiro que apareceu ontem no céu? Não, de que? Nasceu o Filho de Deus"... Os três Reis se perderam e foram pedir informação logo na casa de Herodes, sem saber. (2)
- Aí Herodes falou — "Vocês fazem o seguinte, vocês vão, visitam e voltam e falam comigo, que eu também quero visitar". Mas ele não queria visitar, queria matar o menino... Aí tudo quanto era criança que tinha naquela cidade de Judéia, começou a matar todo
mundo. Aí ele soube que o menino tinha nascido em Belém. .. então começou a matar da Judéia até Belém, não escapava uma criança... Mas Jesus, ele não conseguiu estrangular... ele não tinha o poder... Aí é onde surgiu a Fuga para o Egito... aí tem a ajuda do Padre Eterno... A Bíblia diz: a viagem duraria 12 anos, fizeram em 12 dias. (1)
- Os reis vieram das suas terras cada um do seu lugar então reuniram pelo um sonho que tiveram, numa noite só todos três sonharam um sonho só. Então fizeram assim, no dia seguinte sairam em busca do sonho e chegaram a um lugar chamado "Silueça". Um saiu de Arabi, outro de Sabá e o rei preto saiu da India Oriental. Chegaram n este lugar chamado "Silueça" e chocaram um com o outro, chocaram os três Reis e tiveram um assunto...
Foram trocar idéias um com o outro, mas cada um deles levava seu negócio. Já que nasceu o Rei do Mundo, cada um saiu com a idéia de levar um presente. Cada um levava aquilo que tinha e que era do feito dele porque um negociava uma coisa, outro negociava outra coisa e outro, outra coisa. O rei preto era dono do ouro, Melchior, o Rei Gaspar incenso, o outro mirra - Baltazar. Melchior que era preto igual a mim, era o que tinha ouro, os outros eram brancos. Então quando conversaram viram que estavam indo para o mesmo
lugar, então resolveram ir juntos formando uma caravana. (3)
- Quando sairam os três foi aquela caravana atrás deles. Quando chegaram em Belém de Judá, encontraram
aquela mangedoura, que era mesmo uma estrebaria aonde dormia animais, onde não chovia e nem fazia frio.
Eles entraram dentro daquela rocha de pedra e fizeram a morada aI í e apareceu o menino. Ele não nasceu, ele apareceu por obra e graça do Divino Espírito Santo. A Virgem Maria apareceu, mas nas vistas das pessoas; mas ela não estava assim, e quando foi no Natal e meia-noite em ponto, ela deu a luz, mas ela não deu a luz, ele apareceu. (3)
- São seis profecias, Anunciação, Nascimento, Viagem dos Três Reis, Martírio de São Sebastião e Padecimento. E tem a Gravidez. (1)
- Existe muitas Profecias porque existe muitos anúncios de uma porção de modas, exemplo anunciar a vinda de Cristo eu faço por dois ou três modos. (3)
- A história é uma só, mas por rima diferente a gente faz duas, três partidas. Eu canto um anuncio com três partes mas ele é uma estrada é uma só...
Se difere de uma parte pra outra por diferença de rima.
- A profecia é uma só. (1)
- É uma só, mas cada um interpreta diferente, rima diferente... a Bíblia é a mesma... mas nunca rima
igual. (2)
- Depois do anuncio vem as profecias do nascimento, da visita dos anjos, da visita dos pastores, visita dos Reis Magos, "fuja" para o Egito, matança dos inocentes, regresso do exílio e vai até levá-lo na Cruz. Chegou na Cruz rematou e vai partir pela Ressurreição e termina. Mas até chegar lá leva muito tempo... (3)
São cinco ou seis "toadas" diferentes (melodia para as profecias). As profecias são formadas de estrofes de
quatro versos, com repetição do segundo e do último... (1)
- Para cantar as Profecias ele canta com o contra-mestre Manoel Francisco, duas vozes diferentes e depois os
outros respondem. (3)
Segunda voz é chamada de Resposta do Coro de trás e o Coro da frente são os dois: Mestre e Contra-Mestre. (3)
- Mestre fala os versos de dois em dois, retomados, em canto, por todos. (1)
- Cantam de acordo com o que encontram. Se há presépio, cantam Anunciação e Nascimento; senão, só Anunciação. (1)
Se houver presépio, "primeiro louva o presépio todinho". Só depois louva os santos, começando assim (exemplo):
Meu senhor dono da casa
Preste-me muita atenção
Vou passar pró outra parte
Prá fazer uma oração (1)
- Quando tem presépio tem de cantar dentro da seita dos Reis. (3)
- Eu tenho o costume do meu pai... Santo que tiver, se tiver um santinho assim, só se eu não conhecer ele... mas eu salvo todos eles, com verso improvisado.
(exemplo):
Bendido louvado seja
A Virgem da Conceição
Vou louvar Nossa Senhora
E o sagrado Coração (1)
- Antigamente quando ele cantava os Reis antigos entrava numa casa com muitos Santos ele saudava um por um, mas hoje não é certo, quando cantam um verso só é meio calango. Ele tem de cantar a história toda do Santo. Tem de cantar dois ou três versos pelo menos. (3)
- Se há uma Árvore de Natal, cantam até a Fuga para o Egito. (1)
- "Tronco de Maçonaria", é o nome que Nossa Senhora deu prá ela. Árvore de Natal é coisa sagrada... al í que Nossa Senhora encostou para descansar com o menino, quando ela tava fugindo do demônio... aí os demônios quase que alcançaram al í... mas estavam descuidados, apareceu um anjo, fez um sinal e a transformou em uma urna... (2)
- A chegada de casa para louvar o Santo, isto não tem na Bíblia, o Mestre Folião faz na idéia dele... (3)
- Para fazer o ritual da Folia completo, "tem que cantar tudinho" (as profecias).
Quando a pessoa entende, arma o presépio de acordo prá cantar mesmo, e ele entende e tá alí olhando, se a gente pular um verso, ela sabe que pulou... Há muitos que botam folha de laranjeiras, palha recortada, da porta da entrada até o presépio... e então nós somos obrigados a cantar da porta, pedindo licença, limpando folha por folha, em verso, até apanhar as folhas todinha e chegar no presépio. Isto leva tempo... isto é covardia... Já pegamos isto com o outro Mestre, o Mestre Zé Cândido, no Galeão mesmo... o cara fez para experimentar ele, então ele veio catando de joelho, folha por folha cantando verso até chegar no presépio. Só al í levou hora e meia prá chegar no presépio. (2)
Quando tem folhas no chão, o Mestre Folião tem de cantar porque tem fundamento. Muitas vezes significa, representa uma entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, se tiver palha será outra cantoria... (3)
Aprendeu a Folia com os outros... a pessoa não tem muito estudo, então lê a Bíblia todinha. .. é igual ser um compositor, porque para ser um Mestre tem que saber improvisar... Não é só profecia que ele canta, tem que saber improvisar... Eu não pensava em ser Mestre. Saí com oito anos, tocando tarol. Toquei tarol muitos anos, depois bati surdo...
Aí não apareceu nenhum palhaço... eu nunca tinha colocado a farada.. . aí um pegou uma farda grande, uma máscara de papel, colocou do meu lado e disse: "Você que vai quebrar o galho"... entrei muito sem graça (começou a brincar sem nunca ter aprendido)...
- Aí brinquei, cansei, eu vou logo falar a verdade: eu fiz obrigação no santo. .. eu sou ogan, eu sou coroado, sou confirmado, sou cafofé... Eu não podia nem vestir a farda, mas mesmo assim teimei um ano... fui brincar numa casa... me machuquei. Aí parei mesmo duma vez. Aí fui cantar no lugar do Luiz, meu primo, o mestre daqui, o primeiro mestre que fundou esta Folia, Luiz dos Santos Silva. Mas eu não tinha sido mestre não... mas eu sabia, que meu pai tinha ensinado. Meu pai não me alcançou como mestre... ele já tinha morrido.
Alcançou como palhaço, e ele não queria de jeito nenhum. No ano dele morrer, ele disse: "Meu filho, você tem que seguir a minha parte, não como palhaço... olha só seu tio prá você ver como é que ele morreu". Resumo da história: comecei cantando, comecei relembrando tudo que ele me ensinou... Aí o Mestre era o Luiz. Ele disse: "Nós estamos sem sanfoneiro e tem você e tem o Dodô como Mestre, e eu acho você mais positivo em profecia. Você conhece mais os caminhos que o Dodô... você entende mais do que ele... Mas prá não desfazer do Dodô que é mais velho que você, que carregou você no colo, vamos fazer um negócio: Dodô vem vestido de Mestre e você vem vestido de Mestre, aquele que vier mais bonito vai ficar no meu lugar, porque eu vou ter que tocar sanfona... Eu me enfeitei, eu tenho gosto de me arrumar, eu tenho gosto de sair na falia; Eu armei uma roupa prá mim, bonita mesmo, que nem se o Dodô viesse vestido em dois não dava prá me barrar. Aí o Luiz chegou perante o pessoal: "Eu fiz um pedido aqui, que aquele que chegasse mais bonito era o Mestre Qual a palavra de quem? "Todo mundo votou só prá mim Dodô teve só um voto... contra dezoito, não tinha graça... aí saí cantando de mestre. E daí prá cá, estou cantando até hoje. (1)
- Desde os 12 anos saio na Folia seguindo o rítimo do meu pai, até os 18 anos... Brincou de palhaço, batia uns instrumentos e cantava... Já conta com 43 anos de Mestre. .. Batia instrumentos, bumbo, cavaquinho e tocou viola depois que foi Mestre.
- É do dever do Mestre de Folia, usar uma viola. O Mestre que não usar uma viola está fora de forma. Mas muitos não usam. Ele conhece alguns colegas que usam lenço para dar aceno com lenço.
- Aprendeu a ser palhaço vendo outros, aquilo chegava na casa dele, me enchia a minha idéia e aí ele tocou prá frente...
- O palhaço decora os versos, aprendem sempre coisas novas. Quando acontece uma coisa, ele faz um romance com aquilo. É igual ao Mestre. Ele lê o livro sagrado, aquela história e pega e põe em rima, em verso aquilo que leu. .
- O Mestre aprende um pouco por dentro e uma parte por fora para fazer verso consoante do contrário ele não consegue, mas tem rezas al í dentro de tem de ser consoante com a história sagrada...
- Quando vem a parte de início dos Reis que começa pelo anúncio do anjo Gabriel ou pelos profetas tem de contar aquele caso identicamente como está escrito dentro do livro sagrado, porque senão não está certo.
- Muitas vezes antes de sair eles cantam em Centro de Macumba, mas eles tinham muita vontade de cantar na Igreja, mas o pessoal da Igreja não deixava...
- O instrumento principal é a viola. O triângulo, é indispensável, porque ele tem o significado, mas este é o meu segredo...
- A Folia tem vários mistérios, tem aquele nózinho que ninguém sabe, é o pulo do gato e que na hora certa a gente lança mão dele... (3)
- Vamos sempre num centro, do Caboclo Estrela do Oriente. Diz o caboclo que quando ele era vivo, ele era Mestre-folião. Aí nós chegamos ... este caboclo gosta de profecia. A gente chega na porta, louva todos os Exús da porta, se tiver um copo d'água no canto, louva o copo d'água, louva a vela acesa... ajoelhamos na entrada da porta. .. tiramos o chapéu, vamos até o gongá... ajoelhamos na entrada da porta... tiramos o chapéu, vamos até o gongá. . ajoelhamos, louvamos os santos. .. depois, o resto de uma profeciazinha. Mas nós temos outro centro, que nós pede licença aos exús, pede licença aos caboclos, pede licença aos preto-velhos, e louvamos os santos. Já não cantamos as profecias, porque lá tem é santo que o caboclo não era mestre. No outro... a gente tá cantando a profecia... ele trepa no cavalo dele e canta junto com a gente.
Tem palhaço que, quando sai na Folia, ele faz um trato sério com o Rei Herodes... se ele não perder para ninguém durante os sete anos dele... ele faz um trato com o Rei Herodes... ou ele dá um troço qualquer prá ele dá um presente prá ele... quer dizer, durante aqueles sete anos ele tem um trato... aí, prá sair de dentro de casa, pelo menos no dia 25, ele tem que beijar a bandeira, tem que fazer cobertura com a bandeira por cima dele, não pode andar atrás da bandeira, tem que manter na frente. Mas se ele não tiver trato, se sair por sair, não tem nada não... Palhaço mesmo é ele. Não tem trato com ninguém.
- Nosso sanfoneiro é crente, ele só toca aqui, na Ilha ele não pode tocar. Lá ele é conhecido... Em Reis ele acredita, ele não acredita em São Sebastião, em centro... Reis é da Bíblia. (1)
- O palhaço representa o soldado de Herodes.
- Quando Herodes voltou a perseguição para ver se pegava o Cristo, ele formou uma multidão de soldados dele para procurar Cristo.
- O Palhaço fala de acordo com a capacidade dele, quando ele dança é chula, quando fala é verso, romance, rima, crítica.
- Verdadeiramente a Folia podia sair sem o Palhaço, mas Folia sem Palhaço não tem graça. O Palhaço também tem uma responsabilidade muito grande.
- O Mestre tem sempre um discípulo ou dois que ele ensinou e quando vê que não aguenta mais ele passa para o discípulo.. .
- No arremate eles cantam Profecia para o encerramento. O apito é uma autoridade Quem conhece Reis sabe que o apito no peito do Mestre é uma autoridade, é um respeito...
- Depois de uma pessoa passar de 30 ou 40 anos, não adianta tentar aprender a Folia, porque não entra na memória.
- Os instrumentos de Reis não podem ser usados no Carnaval, porque o Carnaval é a Festa mais puxada pro lado contrário.
- Quando as Folias vão pelas estradas se for à noite vão mudo e de dia vão batendo em marcha. (3)
(1) JOÃO LOPES ISRAEL — Mestre da Folia Penitentes de Santa Marta.
(2) JOÃO D I NIZ — Presidente e Sanfoneiro da Folia Penitentes de Santa Marta.
(3) JOÃO G RACIANO — Mestre da Folia Estrela de Jacó anunciada por Balaão.
Dezembro/81 CEDOC
Texto: Cecília Conde /José Maria Neves
Membros da Folia "Penitentes de Santa Marta" que participaram na gravação
Mestre João Lopes Israel / São Fidelis / Mecânico de automóveis
Contra-Mestre José Hilário dos Santos (Dodô) / São Fidelis / 63 anos
Contra-Mestre Gilson Barbosa / Cunhado de José Dinis / Era Fiscal da Folia
Presidente José Silva (Diniz ou 21) / Miracema / 50 anos
Palhaço Ronaldo Silva / Filho de José Diniz / Rio / 19 anos / Copista
Sanfona José Diniz
Violão Maria Delfina Amaro / São João DeI Rey / 64 anos / Doméstica
Prato Eva Henrique de Souza / Barbacena / 39 anos / Doméstica
Prato Edibal / Morro do Cantagalo
Bumbo Arlindo Alves Diniz / Rio / Filho de José Diniz
Surdão Romildo Monteiro do Nascimento / Rio / 17 anos
Bumbo Robson Monteiro do Nascimento / Rio / 24 anos / Tem 2 irmãos na Folia / Romildo e Manoel
Surdo Alexandre Cardoso / Rio / 13 anos / É afilhado de José Diniz
Surdo Manoel Monteiro do Nascimento / Rio / 19 anos
Surdinho Carlos Eduardo da Silva / Rio / 11 anos
Tarol José Henrique Silva / Rio / 23 anos / Trabalha na Alamo
Caixa de guerra Jorge Crispin Gonçalves Santana / Rio / 12 anos
Pastora Maura Jardino da Silva / Faz parte da cantoria / Campos / 45 anos / Doméstica / Esposa de José Diniz
Pastora Marina da Silva / Faz parte da cantoria / São João DeI Rey / 64 anos / Doméstica
Pastora Rosa Maria Pereira da Silva / Faz parte da cantoria / Campos /50 anos / Doméstica
Pastora Rosa Maria Pereira da Silva / Faz parte da cantoria / Campos /50 anos / Doméstica
Pastora Maria Martins / Faz parte da cantoria/ São Fidelis / 64 anos / Aposentada
Membros da Folia "Estrela Jacó Anunciada por Balaão" que participaram na gravação
Mestre José Moreira / Conhecido por José Graciano / Viola / Espírito Santo / 62 anos
Contra-Mestre Manoel Francisco / Cantagalo (RJ) / 62 anos
Contra-Mestre Odorinhos / Espírito Santo
Presidente Sandoval Ferreira da Silva / Sr. Nenzinho / Espírito Santo
2º Contra-Mestre Manoel de Andrade / Porto Novo do Cunha (MG) / 48 anos / Trabalha em construção civil
Palhaço Antonio Santana de Oliveira / Palma em Minas / 58 anos / Trabalha em construção
Palhaço João Vital da Silva / Leopoldina / 52 anos / Carpinteiro / Constroi instrumentos de percussão
Alferes da Bandeira José Pereira Lopes / Espírito Santo / 43 anos / Porteiro
Sanfona Francisco Carlos / Porto Novo do Cunha (MG) / 56 anos / Aposentado de construção civil
Prato Pedro Julião Folé (Dinho) /Campos/ 42 anos / Marmorista
Triângulo Manoel Messias dos Reis (Netinho) / Campos / 35 anos / Trabalha na Kibon
Caixa Sergio Hilário Lodovico / Rio / 14 anos / Estuda o 1º grau / É filho do sanfoneiro Francisco Carlos
Tarol Fidelis Luciano Barreto /São Fidelis / 46 anos / Auxiliar de Topografia
Pandeiro Anésio de Jesus Fidelis / Vassouras / 51 anos / Aposentado da Fábrica de Bangu / Era fiscal da Folia
Chocalho Tereza Isidoro de Jesus / Leopoldina (MG) / 42 anos / Doméstica / Faz parte do côro de trás
Bumbo José Teixeira / Campos / 53 anos / Encarregado de pedreira
Caixa Auriene Tavares dos Santos / Espirito Santo / 51 anos / Funcionário estadual (EMOP)
Pandeiro José Pereira Lopes / Alferes da Bandeira
Bumbo Olivio / Espírito Santo
Pastora Maria Isabel da Conceição / Vassouras / 44 anos / Doméstica / Cantoria
Pastora Cidone Teixeira / Cantoria / Campos / 51 anos / Doméstica
Côro de trás Benedito Borges / São Fidelis / 56 anos / Trabalha em construção
PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Secretaria Municipal de Educação e Cultura