Compositores Latino-americanos 3
Beatriz Balzi
Gravação de som realizada nos dias 19 de abril de 1986 e 1 de maio de 1988 no auditório do MASP, São Paulo (2 microfones AKG D2100. Gravador Revox A 77, fita BASF SP54R). Edição da fita no estúdio TACAPE -São Paulo, maio de 1988. Matrizado na Continental. Gravação, edição e supervisão de Conra do Silva. Desenho e projeto de capa Juan José Balzi. Filmes da Polychrom, SP. Edições TACAPE (Caixa Postal 112, 36300 -São João dei-Rei, MG). Brasi1,1988.
Capa e Encarte
Textos do Encarte
COMPOSITORES LATINO AMERICANOS 3
BEATRIZ BALZI
FACE A
1. ALFONSO LENG - 4 Doloras
2. GUILLERMO URIBE HOLGUIN - 2 Trechos no sentimento popular
3. HEITOR VILLA-LOBOS - Valsa da dor
FACE B
1. MANUEL ENRIQUEZ - Hoy de ayer
2. CORIÚN AHARONIAN - Y ahora ?
3. LUIS MUCILLO - ... selva oscura ...
ALFONSO LENG
Nasceu em Santiago (Chile) em 1684 e faleceu na mesma cidade em 1974. Foi um autodidata e fez parte do grupo dos 10 entre os quais estavam Garcia Guerrero, Lavin, Bisquertt e Cotapos. Personalidade curiosa e complexa, formou-se em 1904 no Instituto Superior de Comércio e, em 1910, obteve o título de Dentista. Foi Diretor da Faculdade de Odontologia de Santiago e autor de 7 grossos volumes de ensino científico. Sua atividade musical foi muito intensa e reconhecida oficialmente com o prêmio Nacional de Arte, outorgado em 1957. Tomou parte ativa em todos os acontecimentos importantes do começo do século que contribuíram para mudar a face da vida musical de Chile. Não se deixou levar por modas circunstanciais, nem pretendia fazer avanços técnicos deslumbrantes. Sua música nasce de um sentir íntimo e a ele obedece ao formar seu estilo e sua técnica.
Entre suas obras mais importantes citamos o poema sinfônico La muerte de Mino, estreada em 1922, logro máximo do movimento neo-romântico, que marca a data de uma nova etapa na música contemporânea chilena. Precederam a esta obra Maria, sobre romance do mesmo nome de Isaacs, e as Doloras para piano. São muito importantes também suas canções, Andante para piano e quarteto de cordas (1922), Poema para piano (192832), Fantasia para piano e orquestra (19361, Salmo 77 para coro (1941), duas sonatas para piano (1950 e 19731, Warte Nur para contralto e piano (1954), Vigilem (1955), etc.
Doloras. As 4 Dobaras para piano foram compostas em 1914. Contem epígrafes líricas de Pedro Prade. O termo "doloras" foi inspirado no escritor espanhol Ramón de Campoamor. Possuem forma de canção, forte expressão romântica e caráter melancólico. Através de sua finíssima escrita revela-se a rara individualidade do autor.
GUILLERMO URIBE HOLGUIN
Nasceu em Bogotá (Colômbia) em 1880 e faleceu em 1971. Foi discípulo de Figueroa, S. Cifuentes e A. Azzali. Posteriormente segue estudos de violino com A. Parent na Schola Cantorum de Paris e de composição com Vincent D'Indy. Estudou também violino em Bruxelas com César Thompson. Foi professor da Academia Nacional de Música de Bogotá e Diretor do Conservatório Nacional, cargo que ocupou até 1935, reassumindo-o em 1942. Paralelamente ao seu muito importante trabalho didático, fundou a Orquestra Sinfônica Nacional de Bogotá.
Grande é o número de suas composições: uma ópera, Furatena; composições orquestrais, 11 sinfonias, 18 peças sinfônicas, 5 concertos para solista e orquestra, 3 peças para voz e orquestra, 3 ballets, 10 quartetos para cordas, 7 sonatas para violino e piano, 2 quintetos para cordas, 3 trios, Mina de Réquiem, 5 obras religiosas, 7 coleções de canções, numerosos prelúdios para piano assim como 300 Trechos no sentimento popular também para piano e, como música incidental, Prometeu e Anarkes. Escreveu também sua autobiografia "Vida de um Músico Colombiano".
Os 300 Trechos no sentimento popular constituem as obras mais importantes escritas para piano pelo autor. Podem considerar-se felizes exemplos do estilo de caráter francês de fins do século passado. ".... Tenho-me proposto nestes trechos fazer uma exploração dos ritmos de nossas danças, com exceção das da Costa Atlântica que, infelizmente, não conheço..."
O âmbito folclórico de Holguin reflete as atitudes da época e emprega as expressões mais populares da região andina central em forma alusiva. Em gerai limitou-se a 3 ares de canto e dança: Bambuco, Pasillo e
Joropo. Cada trecho tem seu próprio caráter e estão escritos quase sempre em compasso de amálgama, possuindo um motivo rítmico e melódico central que atua como elemento de união e aparece no início de cada peça. Os Trechos op. 22 Nos. 1 e 5 foram escritos em 1927 e possuem características modais muito claras. O N. 1 apresenta uma melodia com características de "toada" e sua extensão é de tipo vocal. No N.5, o autor usa alternadamente os compassos 3/4, 7/8 e 3/1.
HEITOR VILLA-LOBOS
Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro em 1887 e faleceu na mesma cidade em1959. É a figura mais destacada do nacionalismo musical brasileiro e um dos grandes nomes do panorama criativo mundial da primeira metade do século XX. De sua enorme produção, merece destaque especial a série dos Choros, que sintetiza admiravelmente as preocupações composicionais do Mestre e as linhas-mestras do nacionalismo brasileiro. Cerca de cinquenta de suas obras foram escritas para piano solo e diversas delas (como a Bachianas Brasileiras na 4, o Brinquedo de Roda, as Cirandas e as Cirandinhas, as Danças Características Brasileiras, Francette e Piá, o Guia Prático, as duas Proles do Bebê e as duas Suítes Infantis) constituem-se de diversas peças de curta duração. Deve-se observar, nas obras para piano de Villa-Lobos, inclusive naquelas que aliam piano (s) e orquestra (ohm° o Choros n° a, a riqueza na exploração de recursos timbricos do instrumento e a variedade do pensamento rítmico, aliás elementos constantes do pensamento musical villalobiano.
A Valsa da Dor, dedicada a Julieta Strutt, foi escrita em 1932 e executada em primeira audição por José Vieira Brandão, em 1939.
Sua estrutura é clara e simples, próxima do repertório pianístico de salão de fins do século XIX e inícios do século XX. Seu tema tem, igualmente, muitas das características da música dos saraus do passado. Mas esta valsa é bem Villa-Lobos, com suas harmonias, sua vagueza rítmica, seus acentos e, particularmente, com seu sentimento de gosto popular.
MANUEL ENRIQUEZ
Músico polifacético, violinista exemplar, implacável defensor da música mexicana, consequente promotor das correntes musicais de seu tempo, são alguns dos qualificativos que ineviávelmente sugere o nome de Manuel Enríquez para quem tem seguido sua trajetória e o conhece e respeita. Manuel Enriquez nasceu em Ocotlán, Jalisco, México em1929, onde seu pai lhe ensinou as primeiras lições musicais. Posteriormente estudou com Ignacio Camarena e com Miguel Bernal Jiménez. Como bolsista da Juilliard School of Music de Nova York, estudou violino com Ivan Galamián, composição com Peter Menin e música de câmara com Louis Persinger, além de receber aulas privadas de Stefan Wolpe, aluno de Anton Webern, e um dos primeiros "serialistas" na América do Norte.
Em 1971, Enríquez foi bolsista da Fundação Guggenheim para efetuar uma ampla atividade no Centro de Música Eletrônica das Universidades de Columbia e Princeton de Nova York, assim como na Europa, onde assistiu aos cursos internacionais de Darmstadt.
Enríquez participa permanentemente rios mais importantes eventos e festivais de música contemporânea do mundo, oferecendo conferências e difundindo a música mexicana como violinista. Tem recebido encargos de obras por parte de numerosas instituições nacionais e internacionais: entre elas destacam-se comissões para o Festival de Donaueschingen, para c; Ministério de Cultura da França e para o Festival de Outono de Varsóvia. Tem recebido também numerosos prêmios e distinções entre as quais o Prêmio Nacional de Artes e Ciências do México.
Na sua longa carreira, Manuel Enríquez tem sido concertista da Sinfônica de Guadalajara, violinista da Orquestra Sinfônica Nacional, membro fundador do Quarteto México, diretor do Conservatório Nacional de Música, diretor do Centro Nacional para a Investigação, Documentação e Informação Musical (CENIDIM) e atualmente é diretor de Música da I.N.B.A. (Instituto Nacional de Belas Artes). É membro da Academia de Artes de México.
HOY DE AYER. "É uma peça que escrevi no ano de 1981 e que guardei na minha mente durante mais de 15 anos, já que desde então a tinha prometido e dedicado à pianista mexicana Eva Alcázar; e daí o título que tem a ver com esta ideia."
Trata-se de uma peça na qual há uma grande percentagem de liberdade com relação às durações e ordem dos segmentos, mas na qual, tanto os sons quanto a dinâmica e a cor estão devidamente determinados. Foi
estreada pela pianista Eva Alcázar e tem sido tocada extensamente através da América e Europa por ela e pelo pianista mexicano Max Lifchitz.
CORIÚN AHARONIÁN
Coriún Aharonián nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1940. Estudou música e um pouco de arquitetura em seu pais natal, completando sua formação musical no Chile, Argentina, França Itália e Alemanha Federal. Considera que os professores que exerceram uma maior influência em sua formação são os compositores Héctor Tosar e Luigi Nono, o musicólogo Lauro Ayestarán e a pianista Adela Herrera-Lerena. Entre suas composições destacam-se: Hecho 1 (19661, Música para alumínios (1967), Música para Três (1968), Uma estrela, esta estrela, nossa estreia (1969), Quê (19691, Música para cinco 119721, Pequena peça para gente que superou a angústia (1973), Homenagem à flecha cravada no peito de Dom Juan ()faz de Solís (19741, Grande Tempo (1974), Salvai as crianças (1976), Esses silencias (1978), Digo, es um decir (1979), Los cadadias (19801, Num sombrio bosque-um canto um pássaro (19811 e Aprouvo o sol (1984). Boa parte Mias foi executada e difundida pelo rádio e na maioria dos países das Américas e da Europa. Aharonián é diretor de côros e docente (de composição - culta e popular - e de matérias musicológicas). Foi professor no Uruguai, e em cursos internacionais realizados no Brasil, Venezuela e Espanha. Além disso, realizou cursos e conferências em numerosos países.
É autor de artigos e ensaios publicados na Alemanha Federal, Áustria, Brasil, Canadá, Cuba, Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Suécia, Venezuela e Uruguai. Foi, durante 1964, compositor convidado do programa de artistas em residência de Berlim Ocidental. Tem atuado em tarefas organizativas no campo da música e da pedagogia musical no Uruguai e em outros países. Foi membro do comitê executivo da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular (IASPM), e é atualmente membro do comitê executivo da Sociedade Internacional de Música Contemporânea (ISCM/SIMC) e secretário executivo dos Cursos Latino-Americanos de Música Contemporânea. Reside em Montevidéu, Uruguai.
Y ahora 7, para piano solo, foi composta em Berlim em 1984 e estreada por Beatriz Balzi em Ribeirão Preto, Brasil, em 20 de novembro do mesmo ano. Teve, posteriormente, execuções em São Paulo, Waterloo - (Ontário, Canadá), San Cristóbal (Venezuela), Estocolmo, Santos, Montevidéu, Los Angeles, Santiago de Chile, La Paz e Belo Horizonte. A peça, particularmente breve (dois minutos e quarenta segundos), reúne várias características da linguagem musical de Aharonián - e de sua ética e estética como criador latino-americano - : extrema economia de meios, expressividade concentrada, valorização do silencio, provocação do aguçamento perceptivo do ouvinte (rio dinâmico e no dr brico neste caso), sensibilidade estrutural, preocupação pelos fatores de identidade cultural, carga dramática conjugada na medida do possível com uma desdramatização distanciante e com algo parecido ao humor. Em Y ahora? Aharonián limita-se a um ostinato e a três citações não estáticas (e interagindo) de "gestos musicais" tanguísticos.
LUIS MUCILLO
O compositor e pianista Luis Mucillo nasceu em Rosário (Argentina) em 1956. Estudou com renomados professores tais como, Jorge Rotter e Francisco Krópfl (composição e análise musical), Aldo Antognazzi (piano) e Gerardo Gandini (piano (piano-repertório contemporâneo). Bolsista do D.A.A.D. em 1979, viveu 5 anos na Alemanha, tendo trabalhado no Estúdio para Música Eletrônica da Universidade de Colônia, sob a direção do Prof. Hans Ulrich Humpert. Tem escrito obras sinfônicas, de câmara e eletroacústicas, que têm sido principalmente apresentadas em diversos países da Europa, Ásia e América do Norte.
Foi detentor do Primeiro Prêmio do Concurso Internacional de Composição Sinfônica de 1 rieste, Itália, em setembro de 1987, por sua obra Imáge-nes para clave y orquestra, que terá sua première na próxima temporada de outono no Teatro Giuseppe Verdi, nessa cidade.
Sua obra Dos Imágenes para clave solo foi apresentada nas temporadas de 1987 e 1988 pela Sociedade Internacional "Pro Musicis" em Los Angeles, San Francisco, Boston Washington e Nova York. A cravista Eva Nordwall, famosa por suas interpretações de música contemporânea, escolheu várias obras do compositor para integrar seu repertório.
Como pianista, Luis Mucillo tem se dedicado à interpretação de música contemporânea e de suas próprias obras. Tem sido convidado a participar como pianista-compositor em diversos fest vais e cursos, tais como os organizados pelo "GoetheInstitut" de Buenos Aires, a associação "Camping Musical" de Bariloche e os festivais internacionais de nova música em São Paulo, Belo Horizonte e Salvador.
Reside atualmente em Brasília, onde vem desenvolvendo intenso trabalho como conferencista, pianista e professor de análise musical e composição, tendo participado em várias oportunidades, como professor-convidado, do Departamento de Música da UnB.
... selva oscura ... baseia-se em esquemas feitos em 1979.
Para o controle das alturas, o compositor aplicou relações estruturais próprias do pensamento serial, do qual deriva grande parte de sua produção musical. Um set básico de quatro notas, dentro dos limites de uma quarta aumentada, governa a maior parte dos fenômenos harmônico-melódicos, ainda que tenham sido usados outros seta subsidiários de três ou quatro notas. A música resultante é extremamente cromática e não-tonal, e os acontecimentos sucedem-se com grande rapidez dentro de uma textura densa e rarefeita, com momentos de certa forma expressionistas. Pianisticamente a obra é de grande dificuldade técnica e o virtuosismo do intérprete é constantemente exigido. O título alude, fragmentáriamente, a Dante Alighieri (Inferno, 1,2).
Agradecimentos a Pietro M. Bardi (MASP).