
Compositores Latino-americanos
Beatriz Balzi
Gravação de som, realizada no dia 10 de setembro de 1984, no Auditório do Museu de Arte de São Paulo pela RTC, Rádio e Televisão Cultura de São Paulo, por Jaime Covolán, Marcelo Carneiro, Armindo Ferreira, Pedro dos Reis e José Vicente Souza. Editado em Estúdio TACAPE — SP, 15.10.84. Desenho e arte final da capa: Cid Forghieri. Filmes da Polychrom, SP. Matrizado, prensagem e impressão da capa; Gravações Elétricas. Supervisão da edição: Conrado Silva. Edições TACAPE (Caixa Postal 112, 36300 — São João del-Rei, MG). Brasil, 1984.
Capa e Encarte
Textos do Encarte
COMPOSITORES LATINO-AMERICANOS
BEATRIZ BALZI
FACE A
Manuel Ponce — 4 Danças Mexicanas
Juan B. Plaza — Sonatina Venezuelana
Eduardo Fabini — Triste Nº 2
Ernesto Lecuona — 3 Danças Afro-Cubanas
FACE B
Alberto Ginastera — 3 Peças Para Piano Op. 6
Eunice Katunda — 2 Estudos Folclóricos
BEATRIZ BALZI
Nasceu em Buenos Aires, possuindo a nacionalidade brasileira desde 1982. Realizou estudos musicais no Conservatório Nacional de Música e Artes Cênicas "Carlos Lopez Buchardo", diplomando-se em piano e em cultura musical. Seus professores de instrumento foram Josefa Hernandorena, Aldo Romaniello, A. Locatelli e Mimí Berti.
No mesmo Conservatório, realizou estudos de composição, com Alberto Ginastera, e de contraponto, com Pedro Saenz. No Brasil, aperfeiçoou-se em piano com José Kliass.
Tem-se apresentado em grandes centros musicais do Brasil e da Argentina, assim como no México, na Espanha, em Portugal, na Alemanha, na Holanda, na França, no Uruguai e nos Estados Unidos. Gravou obras de autores latino-americanos para rádios e televisões de Madrid, Barcelona, Paris, Amsterdam, Colônia e Boston.
Desde 1974, participa ativamente dos Cursos Latino-Americanos de Música Contemporânea. Integrou, como docente, o XII Festival de Inverno de Ouro Preto e deu curso de interpretação da música contemporânea na Universidade de Ribeirão Preto. Colaborou, como professora e como intérprete, com a Escola de Música de Piracicaba, tendo tocado vários concertos para piano e orquestra de Ernst Mahle. Seu repertório destaca-se pela ênfase dada ao repertório do século XX, especialmente de compositores brasileiros e latino-americanos.
Desde 1977, integra o corpo docente do Instituto de Artes do Planalto, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Crítica Especializada:
"... pianista de técnica apurada, possuidora de um excelente senso de ritmo e, ao ser necessário, de um grande vigor de "toucher'"'
Junius do "Excelsior", México, 7/2/69
"O recital da pianista argentina Beatriz Balzi foi preparado com o maior cuidado e interesse. O resultado foi uma interpretação modelar, extremamente culta e tecnicamente irrepreensível".
Gilberto Mendes, "A Tribuna", Santos, 1977
"... una de las más destacadas intérpretes del continente, que desde fiando los criterios habituales de los concertistas de piano, se ha dedicado preferentemente a difundir la música latinoamericana. (...) Beatriz Balzi dejó en claro sus dotes "tradicionales" en la bartokiana Sonata de Ginastera. Sus movimientos iniciales fueron aptos para que la pianista sacara a relucir un admirable temperamento y exhibiera su imprecaba técnica".
E. R.B., "El País", Montevideo, 8/11/78
"Quanto às interpretações, Beatriz Balzi mostra-se cada vez mais perfeita, na intelecção das estruturas musicais, no aproveitamento dos recursos da técnica, na precisão do fraseado, na especialização do "toucher", na realização dos efeitos sonoros especiais".
Afrânio do A. Garboggini, "Jornal de Piracicaba",12/5/76
"... una intérprete madurísima, con una sólida técnica, un depurado estilo capaz de abordar un repertório variadísimo, y dar a cada escuela, autor y obra el tratamiento que necesita".
L.A.C., "El Noticiero Universal", 15/1/76
"Interpretando Chávez, Ginastera, Plaza, ou peça simples de Guastavino, Beatriz Balzi nos transporta, com talento e técnica inimitáveis, por toda a América Latina, de quem ela é a divulgadora maior aqui no Brasil. Vamos torcer para que Beatriz nos ofereça mais água desta fonte musical inesgotável...".
Walmar Cavalcanti, "Clássicos latino-americanos" Rádio Cultura de São Paulo
"... fez-se aplaudir pela limpidez e fluência da execução, correto jogo de pedais, sonoridade bem trabalhada, virtuosidade desenvolvida e uma expressividade geral de excelente qualidade. Tais predicados estão ao serviço de uma musicalidade profunda e delicada, que sente a música como significação estética e não como simples utilização da teclado. Apreende bem o caráter expressivo de cada trecho, realiza-o com inegável senso de proporção e o comunica de imediato, graças à convicção que informa a interpretação".
Caldeira Filho, "Estado de São Paulo", 24/11/68
"Beatriz Balzi ofreció un recital que significó el descubrimiento, para nosotros, de una excelente concertista. La técnica es firme, el mecanismo dúctil y los ataques nítidos, asociandose a estas cualidades Ia de un pensarniento musical que demuestra personalidad".
Juan Arnau, "Telexpress", Barcelona, 20/1/76
"Beatriz Balzi en esta primera actuación nos ha sorprendido favorablemente tanto por la brillante y vital madurez de su técnica como por el acertado critério con que sabe aplicaria. Domina una pulsación extremamente ágil, desenvuelta y limpia. Con esta presentación, Beatriz Balzi se ha manifestado como una intérprete de mérito, rnuy completa y con autoridad para dominar todo el repertorio pianístico".
X. Montsalvatge, "La Vanguardia Espailola", 16/1/76
"Beatriz Balzi é uma artista que nos faz esquecer o trabalho artesanal indispensável aos 'virtuosas', através de versões de elevada concepção eliminando delas o supérfluo caracterizador do exibicionismo malabarístico e aglutinando suas forças de verdadeira intérprete na emissão de mensagens densas e o mais completo possível das obras sob sua responsabilidade. Merece especial destaque a escolha do programa: nada menos do que 14 composições de autores nossos foram apresentadas. Nesse aspecto, Beatriz Balzi colocou-se ao lado de outros grandes intérpretes (...) que resolveram tomar a si a incumbência de fazer o que a maioria dos brasileiros não fazem, ou seja, dar a conhecer ao nosso público as obras compostas pelos nossos compositores".
Sérgio de Vasconcel los Corrêa, "Folhada Tarde", 26/0/79
MANUEL PONCE
Nasceu em Fresnillo, México, a 8 de dezembro de 1886 e faleceu em 1948. Iniciou seus estudos musicais na cidade de México, continuando-os em Berlim (1904-1908), onde foi aluno de Martin Krause, e em Bologna. De volta ao México, ocupou as cátedras de piano, de composição e de história da música no Conservatório Nacional de Música. Entre 1915 e 1918, desenvolveu intensa atividade em La Habana. Foi diretor da Orquestra Sinfônica Nacional do México e do Conservatório Nacional de Música, onde criou a cátedra de Folclore. Em 1925 fixou residência em Paris, criando a Gaceta Musical (1928), primeira revista no gênero publicada em espanhol. Ponce deixou um número considerável de obras para orquestra e para diferentes grupos camerísticos, tornando-se um dos compositores mais representativos do primeiro nacionalismo mexicano, vazado em cores impressionistas e dentro de preocupação estrutural de caráter neoclássico.
As 4 danças mexicanas, de 1941, foram editadas pela Editorial Cooperativa do Instituto Interamericano de Musicologia, em Montevideo. As danças não são identificadas pelo autor senão por seu andamento.
JUAN BAUTISTA PLAZA
Nasceu em Caracas, a 19 de julho de 1898 e faleceu em 1965. Orientava-se para estudos de direito e de medicina, antes de voltar-se para a carreira musical. Com bolsa do Cabildo Metropolitano de Caracas — por iniciativa do Núncio Apostólico —, estudou por três anos no Instituto Pontifício de Música Sacra, em Roma. Regressou a Caracas em 1923, após diplomado, sendo nomeado Mestre-de-Capela e Organista da Catedral. Em 1924 foi nomeado professor de harmonia, composição, e, mais tarde, de história da música, do Conservatório Nacional de Música, do qual foi também bibliotecário e diretor do Arquivo, rico em manuscritos do período colonial. Sua atividade foi intensa e frutífera, principalmente no labor pedagógico e musicológico. A ele se deve o lançamento da coleção Arquivo de Música Colonial Venezolana e inúmeros estudos sobre a vida musical setecentista. A Sonatina venezolana, dedicada a Claudio Arrau, foi editada em 1942 pela Editora Schirmer, na coleção Latin-American Art Music for the Piano.
EDUARDO FABINI
Nasceu em Solis de Montaojo, Uruguai, a 18 de maio de 1882 e faleceu em 1950. Iniciou seus estudos musicais sob a orientação de seu irmão mais velho, Santiago, grande impulsionador da vida musical em seu país. Mais tarde, estudou com ítalo Casella, Romeo Massi e Pérez Bad ia. Aos 17 anos ingressou no Conservatório de Bruxelas, onde tornou-se o aluno predileto de Thompson, tendo conquistado o primeiro prêmio de violino em 1903. Retornou definitivamente a Montevideo em 1905, fundando, com outros companheiros, o Conservatório de Música e a Associação de Música de Câmara. Sem ser um folclorista e sem apegar-se exclusivamente à temática folclórica, Fabini soube expressar em suas obras a essência mesma de sua terra. De sua produção, cite-se os poemas sinfônicos Campo, La Isla de los Ceibos e Melga Sinfónica, os ballets Mburucuyá e Marrana de los Reyes, a Fantasia para violino e orquestra, o oratório Pátria Vieja e grande número de canções e peças corais.
A série Triste parte da herança popular dos quechuas, que atingiram o Chile, a Bolívia, o norte da Argentina e o Uruguai, manifestando-se diferentemente em cada região. No Uruguai, este gênero musical realizou-se preferentemente através do acordeón. Triste n9 2 foi composta entre 1900 e 1903, e não pretende explorar processos modulatórios tão consideráveis como no poema sinfônico Campo (que usa também tema de caráter quechua), mas apenas evocar o passado do compositor em ambiente campestre.
ERNESTO LECUONA
Nasceu em Guanabacoa, Cuba, em 7 de agosto de 1896 e faleceu em Santa Cruz de Tenerife em 1963. Iniciou cedo sua carreira de compositor. Graduou-se em música em La Habana em 1913. Estudou com Joaquín Nin, e realizou viagens de concertos através da América Latina, Europa e Estados Unidos, com a Lecuona's Cuban 8oys, banda de música popular. Viveu por muitos anos em Nova York, onde escreveu música para musicais, filmes e programas radiofônicos. Em suas apresentações, executava suas canções e danças para piano, assim como obras de outros compositores cubanos de seu tempo. Suas canções Siboney, Santo carabali, Say Si Si e Malagueila tiveram extraordinário sucesso popular, vendendo milhares de edições gráficas e fonográficas. Ele escreveu igualmente duas zarzuelas, e de sua produção instrumental de maior fôlego pode-se citar a Rapsódia Negra para piano e orquestra.
As 3 danças afro-cubanas são Comparsa (editada em 1929), Negra bailaba (editada em 1930) e Negra (1934), a primeira das quais retratando a atuação de bloco carnavalesco que se aproxima, chega ao paroxismo do movimento e afasta-se.
ALBERTO GINASTERA
O mais conhecido compositor argentino deste século nasceu em 1916, tendo estudado no Conservatório Nacional de Buenos Aires sob a orientação de Athos Palma. Para o compositor, o folclore é material temático usado com muita liberdade e dentro de formas de corte clássico. A abundante obra deste compositor assegura-lhe lugar de destaque no panorama criativo latino-americano. Merecem destaque o ballet Panambí, sua primeira obra importante, o Concierto argentino para piano e orquestra, a Sinfonia portelia, os ballets lmpresiones de la puna e Estancia, os Cantos de Tucumán, as Danzas argentinas, a Cantata para América mágica, as Variaciones concertantes, o Cuarteto de cordas no 2, os Concertos para violino e para violoncelo, as óperas Don Rodrigo, Bomarzo e Beatriz Cenci. A atividade pedagógica e de animação cultural de Ginastera foi igualmente produtiva, tendo sido ele o principal responsável pela criação do Centro Latino-Americano de Altos Estudos Musicais do Instituto Torcuato di Tella, de Buenos Aires, por onde passaram alguns dos mais talentosos jovens
compositores de quase todos os países do continente. As 3 Peças para piano opus 6 situam-se na fase assumidamente nacionalista do compositor, apresentando-se como estilizações de temas folclóricos argentinos.
EUNICE KATUNDA
Nasceu no Rio de Janeiro a 14 de março de 1915. Iniciou muito cedo seus estudos musicais, continuando-os, mais tarde, sob a orientação de Furio Franceschini, Camargo Guarnieri e H. J. Koellreutter, que maior importância teve em sua formação. Estudou também com Hermann Scherchen (regência), Bruno Maderna (técnica serial) e José Vicente Assuar (música eletrônica). Desenvolveu brilhante carreira de pianista de concerto, tendo sido laureada em diversos concursos, incluindo um 4º lugar no concurso "Columbia Concerts". Como compositora, foi também muito premiada, destacando-se o "Prêmio Música Viva 1946" por sua cantata O Negrinho do Pastoreio e um prêmio da Sociedade Internacional de Música Contemporânea em 1950 (Quinteto para duas clarinetas, viola, cello e piano). Inúmeros compositores dedicaram-lhe obras, que foram por ela tocadas em primeira audição. Ela foi também a responsável pela criação europeia do Ludus Tonalis de Hindemith. De sua obra, além das peças já citadas, destaque-se ainda os Dois Estudos Folclóricos, os Quatro Epigramas e os Quatro Momentos de Rilke, ambas para piano (tendo sido executada também, da última, uma versão para orquestra de cordas), a Sonatina 1965, a Cantata do Soldado Morto, as Três Peças para 2 pianos e atabaques, a Expressão Anímica (piano preparado) e as 6 Líricas Gregas.
Os 2 Estudos Folclóricos foram escritos em 1952 e são, respectivamente "Canto Praiano" e "Canto de Reis". Nesta obra, a autora não utiliza material melódico ou rítmico tomado diretamente de manifestações folclóricas, mas busca a essência mesma da expressão musical popular.